Um rosto tão bonito se perdeu
Na indiferença
É pena que este amor
Não teve consciência
Adoro Roberta Miranda, Nelson! como não amar? já viu quando ela vem com aquela voz gutural e manda um “vá com deus”? não... como assim? ah, Nelson! você não sabe o que tá perdendo, fio... só ela para, depois que solta o “vá com deus”, completar com “o amor ainda está aqui” com aquela pronúncia do “i” com acento circunflexo, meio pra dentro, abusando do diafragma e fazendo um lindo vibratto... morro com isso! até parece que tem alguém pisando na unha encravada do dedão do pé dela com um salto agulha: “o amor ainda está aquîîî”. e, então, ela solta outro “vá com deus”.
Se é brega? bem... defina brega. só porque alguém tenta, com aquela voz inconfundível, mostrar um desapego esperançoso tem que ser brega? auto lá, Nelson! sente a poesia da coisa... “vá com deus” é a expressão idiomática da linguagem culta brasileira que mais expressa desapego e distanciamento. ao dizê-lo pra alguém, você está dizendo pra si mesmo que a praga dos inferno que deixou a sua vida foi tão longe e sem rumo que a perspectiva de reencontro é incerta... tipo o que você fez com o Napoleão, entende?
Mas não é só isso. quando ela, linda, completa “o amor ainda está aqui”, com aquela expressão de dor na alma – já pisaram na sua unha encravada? então você sabe como é – ela tá dizendo pro playmobil do capeta que foi com deus que é uma eterna e inveterada saudosista da vida que viveram juntos e, aí, vem o segundo “vá com deus”...
Esse outro “vá com deus” é diferente, Nelson. repara só: o primeiro é assim “vacomdeus”, nem respira; já o segundo é “vá-com-deus”, com pausa. e tem que ser meio que gemendo... por quê? é que esse vem de uma linguagem popular, fio. quando a brasileirada quer bem, manda deus ou qualquer outra entidade disponível para cuidar do desinfeliz que fulmina o amor que a gente ainda guarda aquîîî... entendeu o show de interpretação?!?
Posso até lembrar dela no Programa do Gugu... “vacomdeus” – abaixa a cabeça em direção ao microfone; fecha os olhos e põe a mão na frente do rosto com a palma virada para o público; espera o “tururum” dos instrumentos – “o amor ainda está aquîîî” – cabeça pra cima; apertando os olhos, porque acabaram de pisar na unha encravada; braço levantado segurando o microfone e fazendo o formato de triangulo com o corpo – “vá-com-deus” – olhando fulminante para a câmera em close; olhos mareados; balançando levemente a cabeça para os lados... nossa, Nelson, isso ia direto no fundo da minha alma de telespectador de domingo à tarde...
Vê se isso é brega... não pode, Nelson! Roberta Miranda é poesia... ela consegue com três frases ridículas exprimir toda a paixão de uma pessoa abandonada, mas que nutre um amor inabalável. por isso, fio, da próxima vez que você tiver jururu, coloca Roberta Miranda bem alto e pode cantar junto: “vacomdeus / [espera o ‘tururum, tururum’] / o amor ainda está aquîîî / vá-com-deus”. Certeza que vai ser libertador!
Nenhum comentário:
Postar um comentário