segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Não é brega, Nelson, é libertador!


Um rosto tão bonito se perdeu 
Na indiferença 
É pena que este amor 
Não teve consciência 



Adoro Roberta Miranda, Nelson! como não amar? já viu quando ela vem com aquela voz gutural e manda um “vá com deus”? não... como assim? ah, Nelson! você não sabe o que tá perdendo, fio... só ela para, depois que solta o “vá com deus”, completar com “o amor ainda está aqui” com aquela pronúncia do “i” com acento circunflexo, meio pra dentro, abusando do diafragma e fazendo um lindo vibratto... morro com isso! até parece que tem alguém pisando na unha encravada do dedão do pé dela com um salto agulha: “o amor ainda está aquîîî”. e, então, ela solta outro “vá com deus”. 

Se é brega? bem... defina brega. só porque alguém tenta, com aquela voz inconfundível, mostrar um desapego esperançoso tem que ser brega? auto lá, Nelson! sente a poesia da coisa... “vá com deus” é a expressão idiomática da linguagem culta brasileira que mais expressa desapego e distanciamento. ao dizê-lo pra alguém, você está dizendo pra si mesmo que a praga dos inferno que deixou a sua vida foi tão longe e sem rumo que a perspectiva de reencontro é incerta... tipo o que você fez com o Napoleão, entende? 

Mas não é só isso. quando ela, linda, completa “o amor ainda está aqui”, com aquela expressão de dor na alma – já pisaram na sua unha encravada? então você sabe como é – ela tá dizendo pro playmobil do capeta que foi com deus que é uma eterna e inveterada saudosista da vida que viveram juntos e, aí, vem o segundo “vá com deus”... 

Esse outro “vá com deus” é diferente, Nelson. repara só: o primeiro é assim “vacomdeus”, nem respira; já o segundo é “vá-com-deus”, com pausa. e tem que ser meio que gemendo... por quê? é que esse vem de uma linguagem popular, fio. quando a brasileirada quer bem, manda deus ou qualquer outra entidade disponível para cuidar do desinfeliz que fulmina o amor que a gente ainda guarda aquîîî... entendeu o show de interpretação?!? 

Posso até lembrar dela no Programa do Gugu... “vacomdeus” – abaixa a cabeça em direção ao microfone; fecha os olhos e põe a mão na frente do rosto com a palma virada para o público; espera o “tururum” dos instrumentos – “o amor ainda está aquîîî” – cabeça pra cima; apertando os olhos, porque acabaram de pisar na unha encravada; braço levantado segurando o microfone e fazendo o formato de triangulo com o corpo – “vá-com-deus” – olhando fulminante para a câmera em close; olhos mareados; balançando levemente a cabeça para os lados... nossa, Nelson, isso ia direto no fundo da minha alma de telespectador de domingo à tarde... 

Vê se isso é brega... não pode, Nelson! Roberta Miranda é poesia... ela consegue com três frases ridículas exprimir toda a paixão de uma pessoa abandonada, mas que nutre um amor inabalável. por isso, fio, da próxima vez que você tiver jururu, coloca Roberta Miranda bem alto e pode cantar junto: “vacomdeus / [espera o ‘tururum, tururum’] / o amor ainda está aquîîî / vá-com-deus”. Certeza que vai ser libertador!



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Expurgando Teresinhas*


Mas tem que me prender
Tem que seduzir
Só pra me deixar...

Oi? Hã? Hein! Quê? Ah! Anota CPF, RG e endereço, Nelson, anota! que chacrinha é essa! tão fazendo miséria no coração... esse povo que chega como quem chega do nada e explode o coração na maior felicidade... não, não é fácil! quando tá escuro e ninguém ouve, fio, parece que dizem: te amo, Maria. você não sabe, Nelson, como é bom se sentir a estátua majestosa por deus estruturada, o coração, não sei porquê, bate feliz...

Depois, fica tudo azul, Nelson! é um tal de beija eu pra cá, seja eu pra lá e acredite, Nelson, estrelas mudam de lugar! e você queria o quê na manhã de um novo amor? hum, hum!?! jacaré vira herói, cavalo fala inglês, tem mais não... não acredita? você só quer um lugar pequeno e que dê pra dois, simplesmente um lugar de mato verde, pra ter somente certeza dos limites do corpo e nada mais...

Mas tudo passa, Nelson! o outro vai embora e faz-se noite no viver... nessas horas, fio, chora flauta, chora pinho, chora o cantor, tá perdido de amor... aparece fio de cabelo no paletó, e as rosas exalam um cheiro dentro de um livro, um inferno! e você só se pergunta: onde estará o meu amor? nem adianta, a voz da noite silencia... o jeito é dizer à tristeza: se chegue, se sente comigo... nessa mesa de bar, garçom, pinga ni mim!!!

Aí, amigo, abusou, tirou partido, abusou. de repente você tá lá, na dança da solidão, só na desilusão, no silêncio da noite, pensado nos dois... bate outra vez a saudade de todos os desejos, dos beijos e do mel, do olhar carinhoso, do abraço gostoso e dos segredos de liquidificador. e ainda tem o pior, Nelson, é quando o ciúme lança a flecha preta no meio exato da gargata... você chora, chora, como é cruel chorar  assim! e é só tristeza que não sai, não sai...

Ah... e no fim! você só lembra daquele delírio sensual, arco-íris de prazer e suspira: ah, bruta flor do querer! pois é, fio, quando fica o dito e redito por não dito e todos acham que você anda bebendo demais... é batata! você pode soltar a sua voz para que todo mundo entenda: cansou de posseiros no seu coração! Pode isso, Nelson?


*texto em homenagem às profundezas do mar sem fim de merda que tem um monte de gente vivendo por aí...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Caraval 2012: Jacaré entendeu?

Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em 'Fundo de Quintal'
Sou imortal e eu vou viver
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
O povo liberto que a voz ecoou
Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou





Parei com o Brasil, Nelson, parei! vê se pode! que vergonha desse carnaval! tudo bem que a Mangueira não fez o melhor desfile, mas ficar em sétimo [!] isso já é demais... como assim não sabe o que é desfile de carnaval? me ajuda, hein... des-fi-le de car-na-val, o maior show da terra, a data em que todos os brasileiros param com tudo para esquecer a agonia da vida. Mangueira você conhece, né? como não, tapado! eles vieram aqui, a Velha Guarda foi condecorada pela Rainha... foi chique! Com pompa e circunstância, como a Mangueira merece! lembrou, né... pois é, deixa eu contar...

Acontece que a Mangueira é minha escola do coração... desde que eu me entendo por gente, Nelson, eu torço para a Verde e Rosa.... esse ano eu esperava que tudo desse certo, uma vez superadas as dificuldades dos últimos anos, depois de romper com o financiamento do jogo do bicho. não sabe o que é jogo de bicho também? puta merda! jogo do bicho é tipo loteria... tem avestruz, coelho, tigre, veado... você escolhe o número do bicho e se ele sair no sorteio, você ganha... que que tem demais? é proibido no Brasil, fio...


Então, como eu ia dizendo, esse ano a Mangueira tava com tudo! samba bom, carnaval luxuoso e A PARADONA DA BATERIA... imagina só, cantar o samba todo sem nenhum instrumento, só os puxadores e a avenida cantando... de arrepiar! olha só o vídeo. isso tudo me encheu de esperanças... cheguei a acordar feliz no dia seguinte... lavei roupa, limpei a casa, fiz um baita almoço, vê se pode! a Mangueira foi ousada, eu sei, já tinha me consolado que não adiantava torcer pelo título de campeã, mas eu esperava, pelo menos, que ela ficasse entre as primeiras... 

Por quê? como porque, oras! porque as campeãs desfilam de novo no sábado... porque a comunidade, que ralou o ano todo pra fazer o carnaval bonito, fica feliz. essa gente trabalha muito! a maioria é voluntário... não adianta só a Mangueira já premiar eles quando coloca todo mundo na avenida... você não sabia? dos 4000 integrantes da escola, pelo menos 3500 são membros da comunidade que ajudaram a fazer o desfile... pois é, a Mangueira não se vende, se traz no coração!

Mas aí, Nelson, me vem a tragédia... eu aqui, nesse frio – e você sabe que fez frio hoje, com esse casaquino aí que parece mais um aquecedor de sovaco, você deve ter congelado – resolvi acompanhar a apuração pela TV Gato na internet... quis morrer... primeiro porque a conexão tava dando pau e ficava cortando o vídeo, segundo, porque tive que assistir a maior aflição da minha vida de torcedor fanático. como assim, se eu sou fanático? claro! todo mundo tem que ser fanático em alguma coisa... você era no Napoleão, não era, conta... eu sei! minha sorte é que só tem apuração de desfile uma vez por ano, senão eu seria bem mais insuportável do que já sou!

Pode isso, Nelson? não só, nota após nota, a Mangueira foi perdendo, como os playmobil do capeta foram ficando na frente. sério, eu vi quase todos os desfiles, tinha minhas preferidas... mas a escola que ganhou, meu deus, fez uma des-homenagem ao Rei do Baião... se apoiou em um desfile fraco, mas técnico; pomposo, mas sem expressão... dava pra dormir assistindo, o sentimento geral de ver aquilo era do tipo Macunaíma: jacaré entendeu? como disseram no Twitter, o cara mirou no carnaval e acertou na Disney...

Deu vergonha... depois dessa, pode privatizar o carnaval... como a Walt Disney da Tijuca foi ser a campeã??? tudo bem que nos outros anos ela estava linda, mas neste... Vila Isabel e Portela estavam muito mais... não confio mais, Nelson, ano que vem o carnaval vai se chamar Dia do Mikey... vou aproveitar que já estou com a minha fantasia de Pateta e vou ver a Mangueira entrar... nem que seja e ladinho...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Vem viajar

Um queijo suíço tem muitos buracos.
Quanto mais queijo, mais buracos.
Quanto mais buracos, menos queijo.
Logo, quanto mais queijo, menos queijo.

Pode isso, Nelson? Que viagem é essa, meu querido? Você fica aí, todo pimpão, olhando o horizonte e nós aqui, lidando com o dia a dia... você só pode estar de sacanagem! Só porque lhe colocaram nesse queijo rococó no alto desse falo e no meio dessa praça, você acha que pode ficar aí, colocando caraminhola na cabeça alheia...

Vou lhe contar, hein! E eu é que fico aqui me descabelando... tentando dar algum sentido a esta merda toda. Você já tá com o burro na sombra, condecorado, mão na barriguinha... quero ver se você tivesse que entrar na rotina... não ia sobrar playmobil do capeta para compartilhar da sua desventura! Você até poderia achar uma poly vai ao inferno para lhe ensinar a abraçar o capeta, mas ia ver que, no final, a vida não é open bar...


Pois é, Nelson, desculpa falar aí, mas para você que já superou sua dívida com a eternidade, viajar não dá mais não... vai ter que ficar encostado na cordinha aí, apoiado na espadinha... e, como não tem jeito, ou eu lhe olho, ou você me deixa viajar.

Isso, quem vai viajar sou eu! Velhas, novas e boas viagens... espaços para se pensar... afinal, Nelson, lugares, pessoas e indícios de loucura não fazem mal a ninguém, né! Viajar é isso, olhar para alguma coisa ou para alguém e se perguntar: Pode isso? Só que desculpa, fio, eu vou perguntar pra você. Agora, responde, tá... porque se você não responder, aí eu vou ter que me encarar.